Os sentidos do trabalho na ONG Associação Servos de Deus.

Profa. Dra. Kátia Barbosa Macêdo; Daniela Tavares Assis

Publicado na Revista SODEBRÁS, v.132, p.88, 2016..

Resumo – Este artigo tem como objetivo analisar os sentidos do trabalho para voluntários de uma ONG religiosa de princípios humanistas, que atendem dependentes químicos. Como enfoque teórico e metodológico utilizou-se a clínica psicodinâmica do trabalho, que abordou o trabalho voluntário partindo da organização do trabalho como fator importante para a constituição psíquica do indivíduo. Foram realizadas duas sessões de discussões coletivas com seis participantes, que abordaram as categorias da clínica psicodinâmica do trabalho. Foi possível perceber a gratidão e o reconhecimento do trabalho com indicadores dos sentidos do trabalho para estes voluntários.

Palavras-chave: Subjetividade. Voluntariado. Terceiro Setor.

Abstract – This paper aims on the way from work to volunteer for a Philanthropic Institution of humanistic principles that serve addicts. As a theoretical and methodological approach used the psychodynamic clinical work, which addressed the volunteer leaving the organization of work as an important factor in the psychic constitution of the individual. There were two sessions of collective discussions with six participants, who discussed the categories of work psychodynamics clinic. It was possible to see the gratitude and recognition of the work with indicators of labor directions for these volunteers. 

Keywords: Subjectivity. Volunteering. Third Sector.

I. INTRODUÇÃO
Atualmente, há uma expansão em áreas de ensino e pesquisa voltadas para o terceiro setor, principalmente no que tange à execução do trabalho voluntário e sua relevância para a sociedade. Provavelmente, esta ação social solidária contribui tanto para o Estado (que já não atende as demandas), quanto para quem executa esse ato de solidariedade. Nesse contexto, busca-se compreender as vivências dos trabalhadores voluntários de uma organização de cultura organizacional predominantemente religiosa. 

Santos (2006), afirma que o trabalho voluntário no mundo todo é realizado desde longa data. No entanto há riscos embutidos, tais como: trabalhos informais e precários, acidentes de trabalho, jornadas exaustivas, desrespeito aos direitos dos trabalhadores e problemas ambientais. 

Fatores psicossociais no meio ambiente do trabalho são os fatores decorrentes da interação entre o trabalhador e o ambiente laboral que passa a integrar e da síntese ocorrida em face dessa interação, afirma Carneiro (2016). Alguns autores discutem sobre a utilidade do trabalho, este como um meio de satisfação da necessidade básicas e como valor de uso para a sociedade. No quadro abaixo, nota-se que a referência à utilidade do trabalho contribui acrescenta para a civilização e abrange outras atividades laborais. 

Caldana e Figueiredo (2008) consideram que o voluntariado se constituí uma forma de construção da subjetividade e afirmam que a ação voluntária pode vir a preencher tais lacunas, já que o trabalho remunerado tem como um principal fundamento a sobrevivência e a dignificação do homem na era moderna, afirma Sklair (2007).

Nesse sentido Sardinha (2011) afirma que as estruturas da economia social na Europa são predominantemente financiadas pelos Estados. A crise originou a necessidade de novas formas de cooperação entre os Estados e as organizações da economia social. Esta situação abre novas oportunidades para o terceiro setor e confere grande importância ao voluntariado. 

Sardinha (2011) observa que a importância do voluntariado foi reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho em 20011, que fez recomendações aos estados associados para que dessem início à elaboração de estatísticas sobre o voluntariado em diversos países.

O trabalho voluntário na sociedade contemporânea, tem sido tema de discussão em diversas esferas de atuação, seja pelo reconhecimento de sua importância ou críticas a sua prática. Sobre o ato de voluntariar, de se dispor a ajudar, Caldana e Figueiredo (2008), afirmam que, há que se repensar os princípios do voluntariado à luz dos processos decisórios presentes. Como o
voluntário não permite que o beneficiado por sua ajuda, opine sobre a situação de ajuda, dizem os autores, há receio de se oferecer ajuda por medo das possíveis resistências oferecidas pelo ajudado, ou seja, que este imponha condições, normas ou regras para ser ajudado, ou dar oportunidade para o ato de voluntariar. 

Apresentar-se-á no quadro abaixo (Quadro 1), a importância da utilidade do trabalho, do ponto de vista de dois autores:

Trigueiro (2010) concluiu que, nos serviços voluntários, o que move o homem a trabalhar é a solidariedade que decorre de uma ordem moral natural da
qual ele não pode se furtar; e nos serviços religiosos, o homem é movido por sua fé, que traduz a sua necessidade de satisfação dos anseios do espírito, de ligação com o sobrenatural. Essas razões legitimam a existência de prestação de serviços desprovidas das proteções dadas pelas leis trabalhistas.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), na sua 18ª. Conferência, definiu o que é um trabalho voluntário, a saber: a) atividade que envolve trabalho produtivo; b) fundamentalmente não pago; c) não obrigatório; d) o beneficiário do trabalho não pode ser familiar direto do voluntário e e) pode ser realizado dentro ou fora das organizações.

Para os autores Souza, Lautert e Hilleshein (2010), Matos (2012), Shin e Kleiner (2003) e Szazi (2000) o trabalho voluntário (também denominado voluntariado) pode ser entendido como a realização de qualquer atividade na qual seja ofertada livremente, o seu tempo para beneficiar outras pessoas, grupos ou organizações. Os autores acima citados, enfatizam, que não há retribuição financeira ou material, com o objetivo de designar as condutas das pessoas que prestam serviços não-onerosos na sociedade civil e em diferentes áreas.

Para Leite (2010), a pessoa que realiza uma atividade voluntária, assume responsabilidades, preocupações e desafios, mas, também, representa meio de crescimento, fortalecimento e realização pessoal. O trabalho voluntário
traz mudanças para a rotina de vida da pessoa, o que significa que deverá estar preparada para se adequar às mesmas.

Os elementos do trabalho voluntário nas Igrejas católicas, fundamenta-se segundo Limberger (2011), no ensino e na prática de Jesus, e dos apóstolos que percorre toda a Igreja, sobretudo a uma visão de homem e de mundo. O antropólogo Geertz (1989) compreende que os sistemas religiosos têm uma dinâmica específica, onde os membros desse sistema, faz com que eles tendam a desejar uma rede de significados e a realidade.

Nesse sentido, Silva (2004) afirma que essas organizações religiosas se aproximam das estruturas organizacionais seculares, pois se caracterizam pela comunalidade de sentido de objetivos e metas a serem atingidos por determinado grupo. Há também uma verticalização estrutural que canaliza suas ações, e uma produção de bens e serviços para a sociedade.

O modo de trabalhar dessas organizações, segundo Silva (2004), indica que não basta apenas haver líder de igreja, é preciso ser também: advogado, psicólogo, político e assistente social. Assim, a religião passa a ser simplesmente a projeção de conflitos não resolvidos.

II. O SENTIDO DO TRABALHO E A IDENTIDADE PROFISSIONAL

Para Molinier (2013) o trabalho é um processo mutatório para o sujeito, que não transforma apenas o mundo ao produzir bens e serviços, mas que a leve a
transformar a si próprio ao trabalhar. O trabalho designa então um processo maior de subjetivação, ou seja, de criação subjetiva.

Os estudos de Dejours (1994) e Molinier (2013), constataram que a análise psicodinâmica do trabalho sugere que a retribuição esperada pelo indivíduo seja fundamentalmente de natureza simbólica, ou seja, reconhecimento da realidade que representa a contribuição individual, no sentido de gratidão. A construção do sentido do trabalho pode transformar o sofrimento em prazer, e a dinâmica do reconhecimento constitui a realização pessoal no campo social que ganha um lugar com a construção da identidade do trabalho. Sobre o sentido do trabalho e sua relação com a subjetividade do trabalhador, pode-se
investigar suas interfaces dos fenômenos psíquicos a partir de várias dimensões analíticas.

Sentidos e significados não são sinônimos, o sentido é uma construção social, em um processo interativo, por meio do qual os indivíduos se relacionam no tempo e no espaço. Segundo Sklair (2007), não existe consenso sobre
o sentido e o significado do trabalho, alguns teóricos tratam-nos como sinônimos e outros como fenômenos distintos (BORGES, YAMAMOTO, 2004).

Schweitzer et al. (2016) em recente estudo, afirmam que a busca por definições precisas dos termos remete a que: os significados são construídos e apropriados coletivamente em determinado contexto, enquanto os sentidos se referem a uma produção pessoal a partir da apreensão individual de tais significados e estes são conceitos interdependentes. Para os autores esta
necessidade de definição decorre da constatação que, ora os termos são tratados como sinônimos, ora como fenômenos diferentes, dificultando a evolução de estudos sobre a temática.

Para alguns autores como Dejours (1987), Tolfo e Piccinini (2007), os significados são construídos coletivamente em um determinado contexto histórico, econômico e social concreto, ao passo que os sentidos são
caracterizados por ser uma produção pessoal em função da apreensão individual dos significados coletivos, nas experiências do cotidiano.
Os significados do trabalho dizem respeito à representação social que a tarefa tem para o trabalhador, seja ela individual, grupal ou social. São construídos
coletivamente em um contexto histórico, econômico e social concreto. Já os sentidos atribuídos ao trabalho são uma produção pessoal decorrente da apreensão individual dos significados coletivos nas experiências cotidianas.

Ambos, sentidos e significados, são interdependentes, construídos e transformados pela relação dialética com a realidade Tolfo e Piccinini (2007). Na pesquisa de Limberger (2011) sobre os sentidos do trabalho voluntário em uma instituição religiosa, o autor afirma que o fundamento do serviço voluntário na Igreja Católica Apostólica Romana, remete à vida e aos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos e sobretudo a uma visão de homem e de mundo. 

Farris (2002) apresenta em seu ensaio, considerações das práticas religiosas enquanto experiência e um comportamento humano, psicológico e religioso. Nesse sentido, a “experiência religiosa” refere-se ao encontro, momentâneo ou na totalidade de vida com “Deus” e as práticas religiosas; expressam ou incorporam esta experiência direta. 

O sentido é uma construção social, em um processo interativo, por meio do qual os indivíduos se relacionam no tempo e no espaço, e a identidade profissional é um elemento fundamental, na formação de significados para os indivíduos e tem a ver com seu entusiasmo, ou seja, quando o profissional está entusiasmado com algo, este passa a ser um suplemento para sua alma, que engrandece não apenas os sentidos do trabalho em si, mas passa a conferir-lhe valor de ordem simbólica, afirma Dejours (2007). 

Esta nova relação com o trabalho possibilita, além de uma maior tolerância ao sofrimento, potencializar o sentimento de prazer “puro”, forte, que não se compara a nenhum outro tipo de prazer. Entretanto, esta relação é frágil, se for pressionada por regras que violam os valores do trabalhador, ou que impõem o não fazer bem feito, mina as bases do entusiasmo, retirando o benefício da compensação gerada pelo esforço empregado. 

Dentre os sentidos do trabalho, e suas possibilidades, nota-se a capacidade de se identificar com o produto final e o processo de produção, logo, a identificação com a atividade realizada, é um dos fatores que pode vir a motivar o trabalhador a continuar a exercer sua função. Quanto maior a interação entre o contexto e organizacional mais forte será a identidade do papel voluntário e mais longo, provavelmente, será o tempo que o voluntário permanecerá na organização, afirmam Piccoli e Godoi (2012). 

Pimenta e Ferreira (2009, p. 81) afirmam que a identidade é composta por um conjunto de estruturas objetivas constituídas pelo coletivo e social, assim como pela formação histórica, sendo considerada “um processo de subjetivação, metamorfoseado pelo vivido que configura o indivíduo em sua dimensão psicológica”. Sendo, portanto, a possibilidade expressão da singularidade na coletividade. 

Dessa forma, Assis (2010), reforça que o sentido do trabalho é possível por meio da transformação do sofrimento diante da divisão das tarefas pela organização do trabalho – em prazer pela utilização das competências e liberdades individuais. Na pesquisa da autora, a mesma identifica em sua pesquisa realizada com artistas, a categoria a subjetividade do trabalhador e os sentidos do trabalho, onde por meio das análises realizadas nota-se que a identidade do trabalhador se refere à possibilidade de identificação do trabalhador por meio do seu trabalho, para assim, sentir-se ‘realizado’. 

 III. MÉTODO 

O método utilizado neste trabalho fundamenta-se na psicodinâmica e clínica do trabalho, que enfatiza a investigação visível e invisível, e considera a palavra como a mediação na interação do sujeito com a realidade. É um estudo de caráter descritivo e exploratório, e que envolve uma abordagem interpretativista (compreensiva) do objeto de estudo. 

A Psicodinâmica do trabalho utiliza um método específico que liga a intervenção à pesquisa, e é pautado nos princípios da pesquisa-ação. Esse fundamento encontra-se na base clínica do trabalho, que, ao mesmo tempo, é teoria e método, uma vez que, para revelar o sofrimento por meio da fala-escuta, estão implicadas as interpretações conceituais e a ação pela fala.

 Considerando a dinâmica dos processos de trabalho e sua relação com a saúde do trabalhador, esta pesquisa utilizou como coleta de dados o espaço de discussão coletiva com os trabalhadores voluntários de uma instituição de princípios humanistas. O espaço de discussão propicia local de formulações livres e públicas, apresentando, eventualmente, opiniões contraditórias, objetivando levar a arbitragens e tomar decisões sobre as questões que interessam ao futuro do trabalho. 

Após análise documental realizada na ASD (instituição até a presente data não dispunha de um Organograma), foram agendadas previamente com os voluntários o horário e data das entrevistas coletivas. Durante dois encontros de uma hora e 30 minutos cada sessão (sem intervalo), pode-se filmar e gravar em áudio toda sessão. Após a transcrição (integral) das sessões, onde puderam responder mais de quarenta e cinco perguntas, pode-se categorizar as respostas verbalizadas e, no relatório final propor ações de melhoria para os mesmos. Posteriormente, pode-se identificar a maneira como o coletivo compreende sua relação com o trabalho 

No que concerne à demanda, considera-se que foi construída com a participação voluntária do grupo, com a assiduidade e o engajamento dos participantes nas sessões de discussões coletivas. Os procedimentos para realização da pesquisa seguiram as exigências do Comitê de Ética em pesquisa (1.005.070). 

Participaram do estudo cinco trabalhadores voluntários, ambos os sexos, idade variando entre 33 a 59 anos, escolaridade de ensino fundamental a pós-graduação, um solteiro (os demais casados) e todos eram trabalhadores voluntários há no mínimo dois anos na instituição. O conteúdo das discussões coletivas foi analisado segundo o método de análise clínica do trabalho proposto por Dejours (2007). 

A escolha por este método se justifica pela possibilidade de analisar com acuidade a fala dos trabalhadores que participaram desta pesquisa. 

 IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

As análises apresentadas neste artigo são fundamentalmente oriundas das falas dos trabalhadores (nomes reais, devidamente autorizados) durante as cinco sessões de discussão coletiva. O material coletado permitiu diversos focos de análise, mas, para esta pesquisa, focaramse apenas as categorias relacionadas ao sentido do trabalho, buscando identificar quais indicadores passíveis de elaborar o significado do trabalho. Os sentidos do trabalho voluntário estão relacionados às crenças e valores pessoais, e às recompensas recebidas através da execução deste trabalho

Alguns fatores que dão sentido ao trabalho são semelhantes aos que motivam os mesmos a trabalharem, como: melhora da auto-estima, o reconhecimento do trabalho e a identificação com a atividade realizada. O sentimento altruísta é um valor pessoal que leva o trabalhador a se colocar no lugar do outro para poder ajudar. Percebe-se que há o reconhecimento do trabalho realizado, o voluntário sente-se satisfeito e respeitado. Este reconhecimento é recebido pelos voluntários através do feedback dos próprios usuários do programa de recuperação.

Percebe-se que o sentido do trabalho é a recompensa de poder ver a recuperação dos usuários do programa, ou seja, o resultado do trabalho executado. Nota-se também o sentimento de gratidão por poder realizar este trabalho e o crescimento pessoal após o sofrimento sentido antes da oportunidade de ser acolhida. A estratégia de enfrentamento coletiva é a cooperação da voluntária, que foi convidada a participar do trabalho realizado pelos voluntários. Esses fatores fazem com que os trabalhadores se sintam importantes nesse contexto que se encontram, provavelmente é o que lugar que oferece a oportunidade de estarem inseridos no mercado de trabalho e se
sentirem úteis. O valor do trabalho, para eles, mesmo não remunerado, pode ter mais sentido que que um profissional qualificado e mais remunerado no mercado de trabalho.

Percebe-se que o voluntário é um ex-beneficiário direto (recuperado) da instituição, logo o sentimento de gratidão e a religiosidade são motivos para que ele exerça o trabalho de ajudar as pessoas. Nesse sentido, o voluntário se identifica com o sofrimento do outro, e isso lhe dá mais força para continuar
trabalhando enquanto voluntário.

Sardinha (2011), Figueiredo (2005) e Piccoli e Godoi (2012) concluíram em suas pesquisas com voluntários que a melhora da auto-estima é uma vantagem simbólica como consequência do trabalho voluntário realizado.
O sentimento de pertencimento ao grupo permite que a convivência entre os mesmos seja harmoniosa, e a própria história serve de exemplo para ajudar o outro, ou seja, o testemunho é uma ferramenta eficiente utilizada para executar o trabalho. 

Houve relatos do percurso de vida dos voluntários, com indicadores de prazer (sentimentos de gratidão, alegria e confiança), e com mudança significativa na vida pessoal do voluntário. A principal transformação na vida do voluntário
está relacionada à sua recuperação após seu ingresso na instituição, a dedicação à vida religiosa e à mudança no comportamento da família.

A mobilização subjetiva permite a transformação do sofrimento a partir do resgate do sentido do trabalho. Este sentido depende de um outro: do coletivo de trabalho. O coletivo é construído com base em regras que não são apenas
técnicas, o que é denominado de coletivo de regras. Tais regras organizam as relações entre as pessoas e têm uma dimensão ética que remete à noção do que é justo ou injusto, não constituindo normas ou esquemas de regulação.

Elas reportam-se também aos valores pelo julgamento da estética e da beleza
(qualidade) do trabalho, Molinier (2013). Nota-se que o trabalho voluntário gera resultados, pois há indicadores como: largar as drogas e a conversão espiritual. Um dos benefícios para ser voluntário é a inclusão social, pertencer
a um grupo e se sentir reconhecida enquanto sujeito, tem como consequência o sentimento de bem-estar no voluntário. 

Ressignificar o trabalho voluntário gera resultados, pois há indicadores como: largar s drogas e a conversão espiritual. Percebe-se que o resultado do trabalho realizado é um indicador motivacional, pois a capacidade de recuperar um dependente torna o trabalho mais valorizado e consequentemente mais reconhecido. Para eles, dedicar-se à reabilitação é uma forma de gratidão pelo fato de ter sido recupera direta ou indiretamente pela instituição. 

Para Santana (2007) e Sardinha e Pires (2011), os voluntários encontram nesse espaço de trabalho, oportunidade de se sentir útil e de auto-realização. Figueiredo (2005) afirma que nesse tipo de ação há ainda a implicação de vantagens simbólicas, tais como, poder, estima pessoal e prestígio.

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como objetivo desse estudo, pode-se correlacionar a identificação do trabalhador com os valores da instituição filantrópica, e os sentidos do trabalho atribuído às atividades realizadas. Utilizando como método, a categoria mobilização subjetiva, os dados indicam a ocorrência de vivências de prazer e sofrimento e mobilização subjetiva na execução das tarefas na
ONG pesquisada. 

Observou-se que os indivíduos ingressam e permanecem na instituição por acreditar na missão da entidade e para levar assistência aos dependentes, modificando positivamente a realidade dos mesmos, visando a obtenção de sua recuperação, baseando-se em convicções religiosas. Os voluntários
demonstraram conseguir alcançar os resultados esperados com seu trabalho, visto o compromisso subjetivo que aqueles assumem no exercício de suas atividades, buscando atender e prestar assistência da melhor forma, gerando mais benefícios aos dependentes químicos e seus familiares.

Os resultados apontam que os sentidos do trabalho estão relacionados às vivências de prazer, como: ao reconhecimento do trabalho por parte dos usuários do programa de recuperação e, à liberdade (autonomia) em realizar as tarefas. Diante disso, as experiências com o trabalho que fazem, criam novas posturas advinda dessa relação entre indivíduo e organização.

VI. REFERÊNCIAS

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