O trabalho de professores em creches: uma revisão – Kátia Barbosa Macêdo

Profa. Dra. Kátia Barbosa Macêdo e Luciana Garrido Silva Borges

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo fazer um levantamento bibliográfico de artigos publicados nos periódicos Capes no período de 2015 a 2021 e da base de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, abordando o tema da saúde mental dos professores que atuam em instituições de educação infantil, utilizando os seguintes descritores: “mal-estar docente”, “prazer e sofrimento docente” “professores da Educação Infantil”; “saúde e doença”, psicodinâmica do trabalho e Educação Infantil”, “Psicodinâmica do Trabalho e Professor da Educação Infantil, e/ou Creche”. Após a aplicação dos critérios de inclusão, foram selecionados artigos, teses e dissertações. Utilizou-se a análise categorial temática para analisar os dados, além da estatística descritiva simples. Os dados indicam que em todas as pesquisas recentes apontam que os aspectos relacionados a organização do trabalho podem gerar angústias e afetar a saúde dos professores da educação infantil. As pesquisas fundamentadas na teoria psicodinâmica do trabalho, no entanto, apresentaram os contextos de trabalho, conforme as categorias de organização do trabalho e mobilização subjetiva, encaminhando as angústias por meio dos espaços de discussão coletiva. Mesmo as pesquisas que não adotaram as categorias da psicodinâmica do trabalho definidas a priori apresentaram dados ligados à organização do trabalho e à mobilização subjetiva dos trabalhadores, indicando a necessidade de compreender o contexto atual em que os trabalhadores se encontram visando uma intervenção comprometida com a promoção da saúde e qualidade de vida do trabalhador.

Palavras-chave: educação infantil, psicodinâmica do trabalho, saúde no trabalho, professores.

 

1  INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o trabalho docente tem passado por transformações importantes. A saída da mulher de casa para o mercado de trabalho que culminou na terceirização da educação infantil, o aumento de demandas sociais por qualificação, a necessidade de atuação extraescolar de professores e a falta de reconhecimento profissional, especialmente na educação básica, são exemplos de transformações que afetam o trabalho de professor.

O trabalho docente usualmente se realiza partindo da mobilização intelectual do professor, que planeja e executa, de forma individual ou coletiva, atividades que visam promover aprendizagens culturalmente significativas e ampliadoras para o desenvolvimento dos alunos, mas diante de demandas sociais tais como; pobreza, abandono, falta de educação familiar e diante de condições e relações de trabalho complexas, muitos profissionais têm sofrido angústias e por vezes adoecem. Frente às demandas de funções e desafios que muitas vezes geram sobrecarga de trabalho e promovem sofrimento, muitos professores têm vivido patologias do trabalho. Não é incomum o uso de termos como sofrimento docente e/ou mal-estar docente, que é utilizado em pesquisas orientadas pelo discurso do materialismo histórico-dialético, conforme Esteve (1999). Para além de ser um tema para pesquisas de investigação recente, pode também ser considerado uma questão preocupante de saúde mental. Alves (2010) salienta que o trabalho de professores ultrapassa os limites da escola, o que representa e demonstra a evidente sobrecarga de trabalho, sendo apenas um dos desafios inerentes a sua função.

A preocupação com a saúde dos professores da educação básica já tem se mostrado objeto de pesquisa desde os anos 1990, já que junto a informações dos sindicatos, Gouveia (2016) afirmou que desde a universalização da educação básica investigações buscaram compreender quais aspectos que intervêm na saúde dos profissionais da educação. Muitos pesquisadores demonstraram ser o adoecimento mental a principal causa de afastamento dos professores, seguido de problemas na voz e problemas ósseos da coluna.

Conforme a autora, em pesquisa realizada junto a CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação em 2003, em uma amostra de 4.965 professores, observou-se um quantitativo que representa 22, 6% de afastamento. Os dados da pesquisa levaram os sindicatos a criar espaços para discutir sobre saúde docente trazendo para o bojo da questão a sobrecarga de trabalho e intensificação do trabalho. Por se tratar de uma pesquisa antiga, é possível que a porcentagem da amostra de afastados tenha aumentado, visto que diante dos momentos sanitário e econômico, as pressões à saúde dos profissionais tende a crescer.

Assim, o objetivo deste estudo, portanto, foi realizar uma revisão dos artigos nacionais publicados no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES e na base de dados da BDTD entre o período de janeiro de 2015 a dezembro de 2020. O intuito foi verificar os aspectos que envolvem saúde, adoecimento e sofrimento de professores que atuam em espaços de educação infantil no Brasil. Esse tema se justifica ao considerar que estes profissionais estão expostos a angústias pelo trabalho, como as pressões da sobrecarga, a e falta de reconhecimento frente a condições de trabalho precárias. Outro objetivo foi o de analisar o material encontrado, tendo como pressuposto, as categorias de Organização do Trabalho; relações e condições de trabalho e mobilização do trabalho; prazer, sofrimento e defesas, que são as categorias de análise da Psicodinâmica do Trabalho, conforme Dejours (2012).

A Psicodinâmica do Trabalho é uma abordagem que se constitui a partir das seguintes categorias definidas, a priori: Organização do Trabalho (Condições de Trabalho e Relações de Trabalho) e Mobilização Subjetiva (Prazer, Sofrimento e Defesas), conforme apresentado em Fleury e Macêdo (2015). Tais categorias e subcategorias subsidiam a análise clínica do trabalho, nesse sentido, as publicações foram organizadas de acordo com estas categorias, o que possibilitou realizar um olhar psicodinâmico para todo o material selecionado.

2  MÉTODO

Para a condução deste estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica no portal Periódicos Capes e na base de dados do BDTD ( Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações), no período de 2015 a 2020, utilizando os seguintes descritores: “mal-estar docente”, “prazer e sofrimento docente” “professores da Educação Infantil”; “saúde e doença”, psicodinâmica do trabalho e Educação Infantil”, “Psicodinâmica do Trabalho e Professor da Educação Infantil, e/ou Creche”.

Como critérios de inclusão das publicações, foram considerados apenas os trabalhos em português de pesquisas realizadas em municípios brasileiros, os quais trouxeram dados acerca das categorias da PDT, organização do trabalho e mobilização subjetiva. Os critérios de exclusão foram os artigos fora dos municípios brasileiros e que não apresentaram dados relevantes acerca das categorias de análise da PDT, organização do trabalho e mobilização subjetiva, sendo descartadas as publicações que não abordavam aspectos acerca dos professores da Educação Infantil e/ou que não articularam a Psicodinâmica do Trabalho a professores, ainda que atuassem no âmbito da educação básica, considerando os primeiros anos do ensino fundamental.

3  RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da pesquisa foram analisados e serão apresentados aqui, considerando; a) Centralidade do trabalho, b) temas ligados às categorias de análise da PDT e c) Métodos das Pesquisas.

Assim, primeiramente foi analisada a centralidade do trabalho na vida do trabalhador, pois desde o início da pesquisa a compreensão do aspecto social do trabalho e seu impacto à saúde do trabalhador se mostrou evidente e urgente, dando origem a Figura 1 que aparecerá adiante e surgiu a partir da submissão das palavras-chave de todos os artigos selecionados.

As informações sobre as características das publicações, em especial, sobre o ano de publicação dos artigos e os periódicos que os publicaram, foram identificados no próprio Portal de Periódicos Capes e pela Base de dados do BDTD (Banco Nacional de Teses e Dissertações). Com relação ao perfil dos autores, observou-se que a maioria dos autores é do sexo feminino, sendo que 66,6% de pesquisas tiveram mulheres como autoras e 33,3%, tiveram homens como autores. Já as regiões onde houve maior número de publicações foram as regiões Centro-Oeste, com 47,6% das publicações e Sul e Sudeste com 19% das publicações, provavelmente impulsionadas por grupos de pesquisa que investigam os processos de trabalho e saúde em professores da educação básica. As regiões Nordeste e Norte tiveram 9,5% e 4,7% de publicações, respectivamente. Todos os autores de artigos, teses e dissertações estão ou estiveram vinculados a grupos de pesquisa, o que se observou por meio de seus currículos lattes e dos dados disponibilizados nas

As palavras-chaves foram descritas a partir daquelas constantes presentes no item “palavra-chave” dos resumos de artigos, teses e dissertações. Após seleção e análise, elas foram tabuladas por meio do software online Wordart, disponibilizado gratuitamente e que permitiu gerar uma nuvem de palavras, facilitando a visualização dos dados, já os temas foram identificados a partir da leitura integral dos artigos. Eles foram enquadrados em categorias fundamentadas pelos conceitos propostos pela teoria Psicodinâmica do Trabalho, assim; condições de trabalho: trabalho: prescrito e real, mobilização subjetiva que compreende prazer, sofrimento e defesas, espaços de discussão coletivos e identidade. Para uma melhor visualização, análise e interpretação dos dados bibliométricos, estes foram tabulados na tabela montada para este fim com nome dos autores, obra e na Figura 1 foi demonstrada a frequência das abordagens metodológicas de investigação. A análise das informações foi feita a partir da técnica de análise estatística descritiva e a discussão destes dados segue a partir da construção da figura 1.

A Figura 1 foi gerada pelo programa online Wordart e partiu das palavras-chave dos resumos, a fim de facilitar a visualização dos temas e evidenciou a centralidade do trabalho na saúde dos trabalhadores, assim; educação infantil, infância, saúde, prazer e angústias, por exemplo, todos advém do contexto do trabalho e para estes foi possibilitada a compreensão a partir da leitura psicodinâmica. O trabalho dos professores de Centros Municipais e/ou creche, evidenciou como as vivências subjetivas presentes em dados levantados nas pesquisas já realizadas, afetam a saúde dos profissionais, assim, pesquisa falar de aspectos relacionados ao mal-estar, prazer, sofrimento, saúde e doença em professores da Educação Infantil, possibilitou visualizar a importância e a centralidade do trabalho à saúde dos trabalhadores, de acordo com a Figura 1 e conforme pressupostos presentes em Dejours (2016).

Tendo como caráter de relevância o trabalho dos professores da Educação Infantil e suas consequências à saúde, a pesquisa inicial encontrou como resultados, achados que deram origem a tabela 1, assim, foram encontradas: 180 publicações, às quais foi necessária análise e posterior exclusão das que não se referiram ao tema proposto. Após seleção inicial das publicações foram selecionados 21 trabalhos recentes para a discussão sobre; organização do trabalho e mobilização subjetiva, considerando, prazer e sofrimento docente em professores que deram origem a achados interessantes que seguem abaixo.

Considerando que a educação infantil é uma atribuição pública municipal, foram encontrados trabalhos de pesquisas qualitativas com dados a respeito das angústias docentes em municípios das diversas regiões do território nacional, conforme apresentado na tabela 1: Dias (2020), Mota e Pires (2020), Vieira Gonçalves e Martins (2016), Assis (2020), Coutinho e Junior (2020), Sabath (2020), Penteado, Souza (2019), Locatelli e Vieira (2019); elas apontaram as limitações da burocratização dos processos afetando a organização de trabalho e as condições de trabalho; com discursos fundamentados especialmente pelas abordagens do materialismo histórico dialético e Psicodinâmica do Trabalho, como observado em pesquisas. No entanto, as pesquisas que adotaram as etapas metodológicas da Psicodinâmica do Trabalho, conforme em: Benício (2019), Ramos e Macêdo (2018), Santos e Monteiro (2018), Silva (2017), Silva (2015) e Vieira (2017) apontaram as mesmas questões sobre as condições de trabalho e a organização de trabalho docente que foram apontadas pelas pesquisas orientadas pelo Materialismo Histórico Dialético, trazendo encaminhamentos possíveis para as angústias dos professores por meio dos espaços para discussão coletiva e construção de relações de cooperação e reconhecimento.

A organização da Psicodinâmica do Trabalho para a compreensão dos processos de trabalho, reconhece a existência dos eixos da análise que Dejours nomeou de: organização do trabalho e mobilização subjetiva, o que a diferencia também das outras abordagens que tem analisado a saúde mental de professores. A organização do trabalho diz respeito às condições de trabalho e a relações de trabalho e a mobilização subjetiva diz respeito às vivências de prazer e sofrimento e as estratégias defensivas que surgem em resposta do trabalhador e coletividade quando está diante das pressões do trabalho prescrito. Esses eixos estruturam a Psicodinâmica do Trabalho, de acordo com Fleury e Macêdo (2015) e orientaram a apresentação da tabela que segue abaixo:

 

Tabela – 1 Distribuição das Publicações do Período de 2015 a 2020 em relação aos eixos de análise da Psicodinâmica do Trabalho.

Trabalho – Prescrito e Real (Organização e Condições de Trabalho, e Relações Humanas)

Silva e Soares (2017) Sudeste Fonseca Colares e Costa (2019) Norte Silva (2017) Nordeste

Ramos e Macêdo (2018) Centro-Oeste Locatelli e Vieira (2019) Sul

Mobilização subjetiva– Engajamento do corpo, mente e habilidades para dar conta do trabalho.

Braga, Bezerra e Gonçalves (2018) Centro -Oeste Amaral Mendes e Facas (2019) Centro- Oeste Santos e Monteiro (2018) Centro Oeste

Benício (2019) Centro – Oeste

Vivências de Prazer – Resultado da mobilização subjetiva (produz trabalho, leva ao reconhecimento e fortalece a identidade)

Benício (2019) Centro-Oeste

Vivências de Sofrimento – Resulta da impossibilidade de realizar Mobilização subjetiva e da falta de sentido e significado das relações humanas

Dias (2020) Centro-Oeste

Vieira, Gonçalves e Martins (2016) Sul Assis (2020) Centro-Oeste

Mota e Pires (2020) Centro Oeste Coutinho e Junior (2020) Nordeste Sabath (2020) Centro-Oeste Penteado e Souza (2019) Sudeste

Estratégias Defensivas – estratégias subjetivas e coletivas para lidar com o sofrimento do trabalho

Paula e Lima (2020) Sul

Vieira Gonçalves e Martins (2016) Sul Martins, Araújo e Vieira (2018) Sul Santos e Monteiro (2018) Sudeste Santana e Neves (2017) Centro -Oeste

Espaços de Discussão Coletivos – Lugar de dala expressão das angústias, busca por ajustes no trabalho para melhores relações de trabalho, possibilitam a mobilização subjetiva

Benício (2019) Centro-Oeste

Ramos e Macêdo (2018) Centro-Oeste Silva (2015)

Identidade – A identidade profissional é fortalecida por meio do reconhecimento entre pares e das relações humanas estabelecidas no trabalho

Moreira et. al. (2020) Sudeste

Braga Bezerra e Gonçalves (2018) Centro -Oeste

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Considerando os temas relacionados às categorias da psicodinâmica do trabalho, pode-se perceber que as mesmas estavam presentes em vários trabalhos, dentre eles destacam-se: Fonseca Colares e Costa (2019), Silva (2017), Ramos e Macêdo (2018) e Locatelli e Vieira (2019) trataram de pesquisas que conseguiram apresentar dados quanto à organização do trabalho na educação, nesse sentido apresentaram aspectos relevantes quanto as condições de trabalho e relações de trabalho com o aparecimento da precarização das condições de trabalho, conforme evidenciado em Silva (2017) , por exemplo. Já em Braga, Bezerra e Gonçalves (2018), Amaral Mendes e Facas (2019), Santos e Monteiro (2018) e Benício (2019) foi possível perceber de alguma forma que os professores da educação básica que atuam na educação infantil mobilizam sua subjetividade, pois conforme em Benício (2019), apesar de trabalharem em condições de trabalho precarizadas, professores da educação básica sentem prazer e se engajam no trabalho por acreditarem na educação e por se sentirem reconhecidos por ele, especialmente pelos alunos e suas famílias.

Destaca-se que Coutinho e Júnior (2020) aparecem na tabela no eixo sofrimento e sua pesquisa é quantitativa, mas ao trazerem os dados de afastamento dos profissionais da educação básica contribuem no sentido de evidenciar a materialidade desse sofrimento. Moreira et. al. (2020), Braga Bezerra e Gonçalves (2018) falaram sobre a identidade dos professores da Educação Infantil, sendo que em Moreira et. al. tal aspecto foi discutido a partir da teoria das representações sociais e Braga, Bezerra e Gonçalves fizeram uma narrativa autobibliográfica das cinco participantes de sua pesquisa. Apenas as pesquisas que foram subsidiadas pela Psicodinâmica do Trabalho apareceram no eixo dos Espaços de Discussão Coletivos, pois a abordagem de Dejours (2012) considera que os Espaços de Discussão Coletiva são uma etapa de sua pesquisa.

Assim, observou-se que os estudos foram orientados a partir de diversas abordagens, conforme a Figura 2, ela apresenta a porcentagem das pesquisas quanto às bases teóricas que subsidiaram as pesquisas recentemente encontradas acerca de sofrimento, adoecimento, prazer e saúde em professores da Educação Infantil, nesse sentido, ao observar a figura 2, nota-se que o Materialismo Histórico Dialético e a Psicodinâmica do Trabalho são possíveis linhas de investigação sobre os fenômenos que envolvem a saúde dos trabalhadores em educação, mas há outras abordagens, como a teoria das representações sociais, a teoria crítica e as pesquisas quantitativas que contribuíram no sentido de evidenciar a importância dos estudos acerca da saúde dos trabalhadores em educação, especialmente aqueles que atuam na primeira infância

Considerando as frequências da figura 2, as pesquisas que investigaram a saúde mental de professores da educação infantil se mostraram mais expressivas pelas teorias do materialismo Histórico-Dialético e Psicodinâmica do Trabalho, mas a Teoria Crítica e a Teoria das Representações Sociais, também foram utilizadas para análise e compreensão dos fenômenos subjetivos que afetam a saúde desses profissionais. É necessário nesse sentido considerar que cada abordagem possibilita um olhar sobre o mesmo fenômeno.

O Materialismo Histórico-Dialético analisou as vivências dos professores da educação   infantil,   trazendo   para    a    discussão    o    conceito    de    mal-estar no trabalho, alienação e exploração do trabalhador, a Teoria Crítica analisou o tema conceituando a expropriação cultural contemporânea, a Teoria das Representações Sociais, analisou a representação social da professora da educação infantil e a Psicodinâmica do Trabalho, fez a discussão a respeito das vivências de prazer e sofrimento e suas consequências à saúde dos trabalhadores, considerou todo processo subjetivo do trabalho, compreendendo o mesmo quanto a sua psicodinâmica, conforme em Dejours (2016).

Nesse sentido, as vivências de prazer e sofrimento em docentes da Educação Infantil tem se mostrado tema recente em pesquisas, conforme Tabela 1 e figura 2, como recente é a infância como direito. Pesquisas qualitativas com análises de discurso e de conteúdo da Bardin apontaram a relevância ao tema de pesquisa. As pesquisas que trouxeram dados quantitativos com aplicação de escala e apresentação de gráficos sobre o afastamento de profissionais pelo adoecimento mental auxiliaram a revisão, pois evidenciaram a necessidade de intervenções que possibilitem diálogos e ações de promoção à saúde e prevenção de adoecimento dos trabalhadores.

A pesquisa em psicodinâmica do trabalho na Educação Infantil se mostra relevante, pois traz a possibilidade de escuta ao invisível que ultrapassa as paredes da instituição e as formalidades dos documentos que burocratizam os processos, conforme salientado em Pires e Macêdo (2006). Há muito trabalho intelectual que não é visto, nem ouvido, mas que subsidia quase todos os fazeres e exigências, por vezes respaldados em formalizações documentais que revelam distância entre gestão de organização do trabalho e trabalhadores da Educação Infantil.

Uma das contribuições de Dejours (2012), nesse sentido foi nomear o trabalho subjetivo, a este o autor chamou em suas obras de trabalho vivo, o trabalho que mobiliza o corpo e transforma o corpo do trabalhador. Nesse sentido, considerar a subjetividade presente no trabalho de professores com a Educação Infantil, conforme Cerisara (2002) é possibilitar transformações para além da formalidade dos documentos, por se fazerem ouvir as vozes silenciadas.

1  CONCLUSÃO

Considera-se que este estudo atendeu aos objetivos propostos na medida que possibilitou levantar publicações nacionais sobre organização do trabalho e mobilização subjetiva de trabalhadores da educação infantil por meio de diferentes abordagens de análise.

Verificou-se que há abordagens diferentes investigando a organização do trabalho de professores da Educação Infantil, mas a PDT foi uma ferramenta de análise que possibilitou o encaminhamento das angústias de prazer e sofrimento dos profissionais considerando o trabalho de elaboração subjetiva, uma vez que esta abordagem reconhece a importância da escuta aos trabalhadores, bem como dos Espaços de Discussão Coletiva. Nesse sentido, a psicodinâmica do trabalho, de Dejours (2016) se mostrou uma possibilidade de conscientização coletiva e subjetivação das vivências a partir da construção de espaços de diálogo para os trabalhadores. Os dados apresentados pelas tabelas 1 e figura 2 demonstraram que o trabalho em Educação Infantil envolveu uma dinâmica revelada na prescrição dos em documentos que também é subjetiva de relações. A Psicodinâmica do Trabalho no Brasil produziu pesquisas relevantes e contribuições necessárias à manutenção da saúde dos trabalhadores. Nesse sentido, sugere-se a pesquisa empírica em psicodinâmica do trabalho na Educação Infantil, pois traz a possibilidade de escuta ao invisível que ultrapassa as paredes da instituição e a formalidade dos documentos norteadores, bem como seus desdobramentos burocráticos sobre o trabalho.

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