Profa. Dra. Kátia Barbosa Macêdo
A fibromialgia é uma (psico) patologia de alta incidência na atualidade. Seu principal sintoma é a dor difusa pelo corpo. Acomete majoritariamente mulheres e seu tratamento é multidisciplinar. De etiologia ainda desconhecida, a fibromialgia suscita vários questionamentos sobre sua patogenia, sobre fatores que interferem na sua evolução, sobre o melhor tratamento e, para tanto, pesquisas são desenvolvidas em vários centros, como o Brasil, os Estados Unidos, a Europa, etc.
A SFM-Síndrome Fibro Miálgica é caracteriza por dor musculoesquelética generalizada e crônica associada à fadiga, rigidez matinal, alterações de sono e de humor e presença de pontos dolorosos denominados tender points. É prevalente e estimada em cerca de 2 a 4% da população adulta em geral, predominantemente em mulheres.
É uma desordem persistente e altamente incapacitante com impacto negativo em termos de qualidade de vida, capacidade para o trabalho, atividades da vida diária, além de relações interpessoais e familiares. A dor difusa é uma característica da SFM, sendo uma dor persistente, extenuante e incômoda. Depressão e sono não reparador também estão presentes. A disfunção cognitiva é comum, havendo dificuldades para recordar eventos, processar informações e realizar atarefas, além de problemas de memória de curto prazo. (KAZIYAMA, 2017, pag. 403).
Vários estudos indicam algumas características em pacientes com SFM – Síndrome Fibro Miálgica, aqui ressaltadas por Béjar (2017): histórias de vida dramáticas e recheadas de fatos traumáticos; alta incidência de mães deprimidas e melancólicas; famílias mal constituídas, com pais separados e/ou alcóolatras, relacionamento com pais repleto de mágoas. É comum o relato de durante a infância, ocuparem a função de criança terapeuta ou cuidadora junto às mães, com uma distorção da ligação mãe-filha; apresentam um modo peculiar de lidar com as atividades da vida, tendo um comportamento que necessita de estarem constantemente desempenhando tarefas e que possuem a função de serem auto calmantes; buscavam uma excelência acompanhada de profunda idealização em suas funções, se colocando metas impossíveis de serem alcançadas, o que constituía um perfeccionismo do Ego ideal; alta exigência consigo mesmas e com o ambiente pessoal e profissional; sentimento de culpa inconsciente, angústia persecutória; baixa autoestima; falência do sistema instituído de viver a vida, desorganização emocional expressando violência.
Em pacientes portadores de SFM, a dor corporal desempenha variadas funções de acordo com o nível de desenvolvimento atingido pela estrutura psicossomática do indivíduo. A dor pode fazer o papel de mecanismo defensivo corporal a fim de manter o mínimo de organização do funcionamento mental. A expressão somática está ligada à negativação do aparelho psíquico devido à sua incapacidade de lidar com o excesso de excitações desencadeado por um evento traumático atual. O excesso, então, é deslocado para o corpo. Essa é a regressão somática.
A dor corporal corresponde à condensação de experiências traumáticas precoces, que permanecem como marcas corporais no ego corporal. Ocorre um processo de desorganização profundo da estrutura psicossomática, que evolui para quadros de cronicidade e incapacidades significativas na vida profissional e na vida pessoal do indivíduo. (BEJAR, 2017, pag. 134)
Refletindo em termos estruturais sobre o funcionamento dos sujeitos com fibromialgia, alguns autores concluem que a dor seria sintoma de uma estrutura psicossomática; as queixas fibromiálgicas seriam manifestações somáticas de uma rigidez psíquica defensiva concretizada na rigidez muscular, onde a contenção maior da violência não se fixa em torno de episódios de angústia, mas concretiza a rigidez defensiva na rigidez da musculatura; a fibromialgia pode ser apreendida, também, como solução subjetiva para o sujeito. Desse modo, a fibromialgia se refere ao fenômeno psicossomático, e pode sobrevir na estrutura neurótica ou psicótica
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