Profa. Dra. Kátia Barbosa Macêdo,Luciana Garrido Silva Borges, Isabelle Arão
RESUMO
O trabalho em Centros Municipais de Educação Infantil, que acontece nas creches e pré-escolas públicas brasileiras é permeado por diversas pressões que podem causar angústias aos trabalhadores. É um trabalho de educação e cuidados que possui um escopo de assistência, pressupõe ensino de qualidade e ainda fomenta a economia, garantindo a presença da mulher no mundo do trabalho. Tendo como eixo de investigação a Teoria Psicodinâmica do Trabalho, o artigo apresenta dados qualitativos obtidos a partir da escuta clínica a dez professoras efetivas que atuam nesses estabelecimentos a pelo menos cinco anos. Seus discursos evidenciaram que sentem prazer em estar e acompanhar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, mas sofrem com a sobrecarga de trabalho, aliada ao ritmo intenso e acelerado, além das cobranças por documentações burocráticas; as professoras não possuem liberdade e autonomia e nem se sentem reconhecidas, mas, usam estratégias de defesa. As estratégias coletivas encontradas foram: financiar seu trabalho, trabalhar dobrado, negar e racionalizar seu sofrimento, repetir discursos oficiais. As estratégias individuais, em especial, a de medicalização, evidenciam o aparecimento das patologias, dados que convergem com recentes investigações.
Palavras-chave: Professoras, Educação Infantil, Psicodinâmica do Trabalho.
INTRODUÇÃO
A Educação Infantil, que compreende creches e pré-escolas públicas brasileiras, é a primeira etapa da Educação Básica, conforme a LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Brasil (1996), representam um local de trabalho essencialmente feminino, conforme os dados do INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira Inep (2019). As profissionais que atuam em creches e pré-escolas são essenciais para a manutenção deste serviço e vivenciam muitas pressões e desafios, pois é um trabalho de educação, cuidados e brincadeiras.
Considerando o escopo de assistência da Educação Infantil e sua importância para a manutenção da economia, no sentido de fomentar a presença da mulher no mercado de trabalho, conforme Nunes, Corsino e Didonet (2011) e Louro (2004), ainda é um trabalho precarizado, onde sobrecarga e falta de condições físicas e materiais sobressaem, mediante relações de trabalho cada vez mais áridas e levando os profissionais que nela trabalham, a sofrerem angústias e adquirirem patologias, o que tem chamado atenção de estudiosos e pesquisadores, como; Dias (2020) e Assis (2020) que realizaram suas pesquisas na região Centro-Oeste do Brasil. Embora tenha se iniciado um movimento de pesquisa e escuta a tal categoria de profissionais ainda não foi possível verificar uma investigação que partisse da perspectiva Psicodinâmica do Trabalho com base em Dejours (2012).
A investigação apresenta um olhar para os processos subjetivos do trabalho de professoras que atuam em creches e pré-escolas, que acontece em Centros Municipais de Educação, nesse sentido, o artigo traz dados preocupantes com relação às angústias das professoras, eles foram obtidos a partir da escuta clínica, por meio da palavra analisada e discutida à luz das contribuições da psicodinâmica do trabalho de Dejours (2011) (2016) (2022). O artigo está organizado da seguinte forma: apresenta uma fundamentação teórica, com embasamento orientado pela teoria Psicodinâmica do Trabalho, Material e Método, Resultados
e Discussão e Conclusão.
Angústias que são vivenciadas no trabalho produzem um movimento de mobilização subjetiva, que de acordo com Dejours (2022), pode tanto culminar em prazer, quanto em sofrimento. O prazer no trabalho acontece quando o movimento de mobilização encontra um espaço de liberdade e autonomia para que sejam as transformadas as angústias provocadas pelo desafio do trabalho em criação e inventividade. Infelizmente, as condições e as relações de trabalho, desde a modernidade aos dias atuais dificultam e por vezes impedem a transformação do trabalho em criação e prazer, assim, a mobilização subjetiva que será tratada neste artigo abrange: prazer, sofrimento, estratégias de defesa ao sofrimento e as patologias do sofrimento não elaborado. Os sujeitos dessa pesquisa de campo são professoras da primeira infância que atuam em creches municipais, os Centros Municipais de Educação Infantil que atuam em um município da região Centro-Oeste do Brasil. Para conduzir a discussão a abordagem de leitura aos fenômenos é a Psicodinâmica do Trabalho.
A Psicodinâmica do Trabalho é uma ciência de estudo aos processos subjetivos do trabalho e para tanto ela se vale da análise clínica aos discursos de trabalhadores para compreender os processos subjetivos decorrentes do trabalho, conforme Dejours (2022), pois de acordo com o autor, ninguém o processa e opera com o uso de sua inteligência. Fleury e Macêdo (2015) apontam duas dimensões do trabalho que atuam diretamente na vida do trabalhador: trabalho prescrito e trabalho real. O trabalho prescrito é a imposição literal do trabalho ao trabalhador e se manifesta pelas regras oficiais em regimentos e documentos orientadores, já o trabalho real é o produto do desafio, se mostra como o que o trabalhador consegue apresentar diante dos impasses do trabalho e conforme as autoras, esse processo todo invade a subjetividade do indivíduo, pois para dar conta de realizar a imposição do trabalho real
é necessário fazer ajustes que por vezes representam transgressões. As transgressões às quais a Psicodinâmica do Trabalho se refere não são transgressões que representem algum tipo de prazer, mas antes, são geradoras de angústias e sofrimento, conforme Dejours (2022).
Considerando os aspectos reais do trabalho público que são expressos por meio dos documentos orientadores e regulamentadores das ações profissionais, o que se observa é um grande desafio à qualquer subjetividade, uma vez que todas as tarefas são organizadas e padronizadas pelos documentos burocratizados, que geralmente são eleitos por uma hierarquia bem distante dos trabalhadores do núcleo operacional (PIRES e MACÊDO, 2006). Isso representa um distanciamento entre a cúpula estratégica e os trabalhadores da base, o que dificulta qualquer negociações e acordos e de certo modo formaliza o sofrimento. Analisando ainda o aspecto naturalmente subjetivo que é o trabalho em Educação Infantil, que conforme Cerisara (2002)(2004) se dá como uma atuação quase maternal, aliada aos aspectos de distanciamento e burocracia da natureza de seu trabalho, pretende se, compreender, a partir dos discursos das professoras, como vivenciam subjetivamente os desafios de sua profissão, como se organizam internamente e depois coletivamente para dar conta dos inúmeros desafios que vivenciam quase diariamente em suas salas de aula nos ambientes de creche e pré-escola.
Prazer e Sofrimento no trabalho são aspectos investigados pelas clínicas do trabalho, em especial a clínica Psicodinâmica do Trabalho, com base em Dejours (2022). Conforme sua abordagem teórica que tem fundamentação na psicologia do trabalho, as vivências são resultado de uma mobilização subjetiva de angústias que tanto podem ser de prazer, como de sofrimento, dependendo de como a subjetividade encontra ou não, certa liberdade para vivenciar ao esse processo. A mobilização subjetiva pressupõe que haja certa liberdade, pois o trabalhador precisa ser habitado pelos desafios, imposições e impasses de seu ofício, a fim de que sua inteligência busque internamente soluções criativas para suas demandas de ofício. Tais conceitos são pressupostos da Psicodinâmica do Trabalho, uma abordagem de leitura para os fenômenos subjetivos do trabalho, conforme Dejours (2022), Fleury e Macêdo (2015) e Molinier (2013).
No caso do presente estudo, a clínica Psicodinâmica do Trabalho foi eleita como um caminho de investigação, pois, frente a outras abordagens, como o materialismo Histórico- dialético, Teoria Crítica e Teoria das Representações Sociais, que já realizaram processos investigativos com professores de Educação Infantil, Canuto e Macêdo (2022) e as outras clínicas do trabalho, a saber: Ergologia, Ergonomia, Psicossociologia e Clínica da Atividade, Bendassolli e Soboll (2011). Frente a outras abordagens de compreensão para o fenômeno, a Psicodinâmica do Trabalho se mostra eficiente para compreender os aspectos psicológicos relacionados ao trabalho e para propor um encaminhamento das angústias, como evidenciado em Dejours e Bégue (2010).
A falta de liberdade e autonomia afeta os profissionais e promove vivências de sofrimento que podem causar patologias, tais reflexões se mostram necessárias, considerando a leitura aos dados de pesquisas recentes, como em Machado e Macêdo (2022) que evidenciou como as vivências de liberdade e autonomia são importantes e Santos (2022) que apresentou um cenário semelhante aos dados desta pesquisa, tais aspectos serão abordados ainda nessa discussão.
Já o objetivo do presente estudo foi analisar a mobilização subjetiva das professoras que atuam em Centros Municipais de Educação, a partir da psicodinâmica do trabalho. A mobilização subjetiva considera como indicadores as vivências de prazer-sofrimento e estratégias de enfrentamento advindo do trabalho e as patologias emergentes.
MATERIAIS E MÉTODOS
Com relação ao método utilizado nesta pesquisa, tratou-se de um estudo de caso de caráter descritivo e exploratório com base na Psicodinâmica do Trabalho, que utilizou análise documental e entrevistas individuais utilizando roteiro semiestruturado que enfocou as vivências das professoras que atuam nas creches municipais, os Centros Municipais de Educação Infantil, considerando os aspectos da Mobilização Subjetiva: prazer, sofrimento e defesas das trabalhadoras.
Participaram da pesquisa 10 professoras concursadas com tempo médio de trabalho de 13,5 anos em Centros Municipais de Educação Infantil que atendem crianças de 0 a 6 anos de idade. Os dados foram analisados utilizando-se a análise clínica do trabalho
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Psicodinâmica do Trabalho, de Dejours (2022) reconhece as vivências de prazer, vivências de sofrimento e estratégias de defesa, como unidades de análise que emergem dos discursos; sendo que as vivências de prazer representam liberdade, autonomia e reconhecimento, já as vivências de sofrimento são a sobrecarga, falta de autonomia e reconhecimento e dessa tensão entre trabalho e angústias também podem surgir as estratégias de defesa que podem ser individuais e coletivas. Considerando os discursos das professoras, ficou evidente que as vivências de prazer estão mais relacionadas ao reconhecimento das crianças e à pouca liberdade que elas assumem ao criar atividades lúdicas com as crianças, mas é necessário salientar que estas vivências foram pouquíssimas se comparadas às vivências de sofrimento que se manifestaram especialmente por meio da sobrecarga, categoria de análise com maior frequência de seus discursos, conforme será apresentado na Figura 2, seguidos de falta de liberdade e falta de reconhecimento, como evidenciado por suas falas. As estratégias de defesa ao sofrimento foram muitas e deram origem à Tabela 1 que seguirá adiante. As patologias estiveram presentes nas dez entrevistas e foram organizadas na Figura 4 por meio de um gráfico.
Analisando os discursos das professoras, ficou evidente que a sobrecarga de trabalho à qual estão expostas foi o aspecto de sofrimento com maior frequência, inclusive, dentre as unidades de análise que emergiram dos discursos docentes foi o aspecto com maior prevalência, chamando a atenção dos investigadores deste processo.
A sobrecarga está presente em todos os aspectos vivenciados em Centros Municipais de Educação, considerando que as professoras precisaram assumir maiores responsabilidades quanto ao cuidado de saúde e higiene das crianças, com a pandemia de covid, houve ainda, um aumento de responsabilidades documentais, que expressão a burocratização de seu trabalho, a falta de profissionais na linha de frente ao atendimento das crianças foi elencada, bem como, a inclusão de crianças com necessidades especiais, introdução do acesso de famílias às professoras por meio de plataformas digitais com recursos, como; vídeo, foto e texto e vigilância constante ao seu trabalho. Outro aspecto gerou sofrimento foi a falta de reconhecimento, pois ao serem questionadas a respeito de reconhecimento no trabalho, apenas 20% disseram que se sentiam reconhecidas pela gestão, destes 20% em que houve reconhecimento, ele esteve vinculado a ideia de gratidão pelo trabalho que aconteceu em eventos de fechamento anual.
As professoras pontuaram angústias e críticas às avaliações negativas que recebem, o que fez surgir outra categoria de análise, a de assédio moral. Para suportar as pressões as professoras utilizaram estratégias de defesa individuais de racionalização, negação, isolamento, censura, dramatização, alienação e medicação.
A medicação foi amplamente usada, considerando que 60% das professoras relataram vivenciar ansiedade, angústias, pânico e algumas também relataram sofrer de depressão. Quanto a estratégias de defesa coletiva, constatou-se os comportamentos de: trabalhar dobrado, financiamento próprio de recursos essenciais para o trabalho, competição, cinismo, ironia, passividade, repetição de discurso oficial e ainda, algumas tentativas de organização coletiva para o compartilhamento de informações, organização coletiva no sentido de buscar de soluções. Assim, a partir de seus relatos surgiram categorias de análise quanto ao assistencialismo: alienação, assédio moral, descumprimento legal, desvio de função e burocratização, tais aspectos que emergiram dos discursos deram origem a outro artigo e inspiraram a escrita do relatório final da pesquisa.
Com relação à caracterização sociodemográfica das pesquisadas, todas as participantes eram do sexo feminino, com idade média de 47, variando entre 34 e 67 anos de idade. Todas as participantes eram profissionais graduadas em Pedagogia, sendo que nove tinham especialização e uma mestrado em educação. Quanto ao estado civil eram 3 casadas, 3 solteiras, 3 divorciadas e 1 viúva e todas ajudam ou compõe a renda total da família. Com relação a seu vínculo de serviço público e tempo de experiência profissional, todas as participantes eram concursadas na Secretaria Municipal de Educação Infantil e atuavam em Centros Municipais de Educação Infantil. O tempo médio de atuação das professoras em CMEIs de Goiânia foi de 13 anos e dois meses, variando entre 5 e 35 anos de atuação, com tempo médio de formação em pedagogia foi de 16 anos e 8 meses de formação.
A partir do relato das professoras ao serem perguntadas quanto ao tempo de experiência, formação e atuação na educação infantil municipal, observou-se que 100% das participantes são do sexo feminino, com idade média de 47, variando entre 34 e 67 anos de idade. Todas as participantes são profissionais que possuem formação em Pedagogia, sendo que nove com pós- graduação em educação e uma com mestrado em educação. Quanto ao estado civil são: 3 casadas, 3 solteiras, 3 divorciadas e 1 viúva e todas ajudam ou compõe a renda total da família. Com relação a seu vínculo de serviço público e tempo de experiência profissional, todas as participantes são concursadas na Secretaria Municipal de Educação Infantil e atuam em Centros Municipais de Educação Infantil, sendo que três participantes tiveram experiências no mundo do trabalho apenas na Educação Infantil e as outras sete participantes atuaram em outros setores da economia, como auxiliar administrativa, vendedora e bancária. O tempo médio de atuação das professoras em CMEIs de Goiânia foi de 13 anos e dois meses, variando entre 5 e 35 anos de atuação, com tempo médio de formação em pedagogia foi de 16 anos e 8 meses de formação. No que se refere a Mobilização Subjetiva, as duas dimensões de análise foram: vivências de prazer e sofrimento, estratégias de defesa e patologias. As vivências de Prazer englobam liberdade, autonomia e reconhecimento, bem como os sentidos do trabalho. As vivências de Sofrimento evidenciam sobrecarga e falta de reconhecimento também a patologias do trabalho. As estratégias de defesa individual e coletiva foram usadas no sentido de minimizar as angústias do sofrimento e coletivamente as professoras também usaram estratégias de defesa que refletiram suas relações socioprofissionais. Considerando as limitadas vivências de prazer e as vivências de sofrimento frente às estratégias defensivas que por vezes não conseguiram encaminhar as vivências de sofrimento para condições de saúde, surgiram assim, as patologias do trabalho e sobrecarga, nesse sentido, as dez participantes apresentaram alguma patologia do
trabalho que serão apresentadas em forma de uma tabela organizada.
Considerando as vivências de prazer o que se observou a partir dos discursos das participantes foi que o prazer não fez o caminho da liberdade e da autonomia e sim da mobilização subjetiva pela ação sublimatória do trabalho, no exercício de transformar as angústias do trabalho em ensino, sorriso infantil, aprendizado, conforme seus relatos, pois apenas 10% das profissionais falaram que tem liberdade e ainda assim, tal liberdade tem sido
conquistada com enfrentamento, luta e perspectiva crítica. Foram selecionadas frases que demonstram o que pôde ser considerado vivência de prazer para as professoras entrevistadas:
P 2: “Ah, o meu trabalho é muito importante né, ele tem uma importância grande na minha vida né, é uma parte boa da minha, da minha satisfação em relação a contribuir na construção de uma sociedade mais respeitosa”
P3: “Estar com crianças é muito gostoso ver elas aprendendo e se desenvolvendo é muito prazeroso
P4: “Eu gosto muito do meu trabalho em si, gosto do meu trabalho, gosto de trabalhar com crianças”
P5: “É isso, ver que a criança está aprendendo” P6: “Eu gosto muito de trabalhar com crianças”
A partir da leitura aos discursos de prazer das professoras de educação infantil, que mobilizam sua subjetividade para transformar em ensino tantas angústias e mediante pouca autonomia e pouco reconhecimento, foi então pensada a figura 1, a figura 1 apresenta os sentidos do trabalho em educação infantil, ao observá-la fica mais visível o prazer quase abstrato das profissionais, que sentem o prazer de perceber o sentido de seu trabalho em participar da formação dos pequenos cidadãos, a figura 1 foi montada a partir das falas destas dez professoras que aceitaram voluntariamente participar da pesquisa, expressando seus prazeres e angústias em serem professora da primeira infância;
Figura 1 – Sentidos do trabalho da professora de Educação Infantil
Fonte: (Autoras, 2022)
Conforme a Figura 1, há sentidos no trabalho com crianças em educação infantil, pois, por se tratar de um trabalho humano e próximo na função do ensino, há trocas sociais, vivências e experiências reais de ensino e aprendizagem. social, humano e afetivo nesse trabalho. Outro aspecto de prazer no trabalho, conforme a psicodinâmica do trabalho é a gratificação moral de importância simbólica, o reconhecimento, conforme Dejours (2022).
O reconhecimento presente nos discursos das professoras foi pequeno em relação à falta de reconhecimento e esteve vinculado a ideia de gratidão pelo trabalho que é evocada ao final de cada ano letivo ou esteve vinculado ao resultado imaterial do trabalho pelas próprias
percebem que dada a importância de seu trabalho esperam um maior reconhecimento, tanto da gestão, nos locais em que trabalham, como da prefeitura que administra a educação pública, como de toda comunidade atendida. Suas falas abaixo, demonstram que percebem o pouco reconhecimento que tem, mas que valorizam cada tentativa de fazê-las reconhecidas.
P1: “para ser reconhecido, você precisa saber que é reconhecido, você tem que saber que está sendo reconhecido e a gente sabe que não tem elogio, o que passa a impressão de que você está ali para trabalhar e não para ser reconhecido”
P3: “Geralmente eu escuto feedback negativo, né, muitos feedbacks negativos” P4: “Nem sempre, frustração, né, sinto muita frustração”
P5: “Não, só críticas, eu acho que devo ter sido elogiada umas duas ou três vezes, o tempo que estou trabalhando ali”;
P9: “Olha, existe um reconhecimento, existe um reconhecimento sim, esse reconhecimento, ele vem no final do ano”
Como exposto nas falas das professoras, o pouco reconhecimento vem de colegas, ou mesmo das crianças pelo afeto sincero que demonstram, a presença de feedbacks negativos esteve presente no discurso de 30% delas, assim, emergiu a categoria da categoria de precarização, a subcategoria de assédio moral, que será apresentada mais adiante. A falta de reconhecimento além de ser expressa nas falas acima, também apareceu em seus discursos pela sua identidade profissional, que segundo elas é confundida com uma função assistencialista de cuidados, como a função de babá, mas que apesar disso, possuem muitas responsabilidades burocráticas e poucos meios para desenvolvê-las, como ausência de materiais para fazer planejamentos, diários, ausência de tempo na instituição para desenvolver trabalhos burocráticos, como acontece com as professoras que trabalham em escolas municipais e com tais condições, as participantes foram tecendo um discurso, no qual reforçaram seu trabalho assistencialista nas instituições e burocrático em seus momentos de lazer e família, o que também evidenciou a sobrecarga de trabalho. A sobrecarga foi a categoria mais prevalente da pesquisa, aparecendo com maior frequência do que as outras categorias, esteve à frente de Riscos Ocupacionais, conforme apresentado na Figura 2.
A figura 2 apresenta as categorias de análise da pesquisa, considerando que a precarização é uma categoria que surgiu dos discursos, composta por: desvio de função, descumprimento legal, burocratização e assédio moral, que é apresentada por meio das falas na tabela 2. O gráfico facilita a visualização das categorias com maior frequência que foram; sobrecarga e riscos ocupacionais, bem como as de menor frequência, liberdade e autonomia e desvio de função. A sobrecarga é uma subcategoria das vivências de sofrimento, pois ela representa sofrimento para a psicodinâmica do trabalho, bem como a falta de reconhecimento.
Figura 2 – Gráfico de Frequências das Categorias de Análise
Fonte: (Autoras, 2022)
Conforme apresentado na Figura 2, a sobrecarga se mostrou aspecto de relevância, comprovando que há muitas vivências de sofrimento que as profissionais docentes da educação infantil vivenciam e para sobreviver a esse sofrimento elas podem se valer de estratégias de defesa individuais e coletivas que muitas vezes falham, culminando em patologias do trabalho, assim, foram selecionadas falas que comprovam a sobrecarga e são apresentadas na forma de uma figura para facilitar sua visualização, pois a sobrecarga se evidenciou na invasão do trabalho à vida pessoal e lazer, intensidade do trabalho, aumento de responsabilidades devido ao absenteísmo, metas inalcançáveis, mudanças constantes na forma de realizar o trabalho documental, atendimento a crianças com necessidades educacionais especiais sem apoio necessário, assistencialismo, responsabilidade com a integridade física, emocional e material de todas as crianças, a Figura 3 tentou demonstrar o sofrimento gerado pela sobrecarga de trabalho, selecionando algumas falas selecionadas nos discursos das professoras.
Fonte: (Autoras, 2022)
Além das falas das professoras selecionadas para a Figura 3, ainda pode-se evidenciar o sofrimento de sobrecarga por meio de falas que questionam a falta de suporte no trabalho, as mudanças constantes que exigem rápida adaptação das professoras, o ritmo intenso de trabalho com cobranças constantes que geram angústias às profissionais, algumas frases foram selecionadas dos discursos de 100% das profissionais entrevistadas e seguirão abaixo:
P2: “A gente não tem direito a um terço da carga horária para fazer estudo e planejamento, então a gente faz tudo em casa, então desequilibra tudo”
P3: “Isso é uma dor que precisa ser revista no trabalho do professor do CMEI, sobra pouco tempo, eu tenho muitas, muitas, muitos colegas que reclamam”
P4: “A gente precisa cumprir uma rotina né, em relação aos cuidados com as crianças e muitas vezes a gente precisa interromper uma atividade pedagógica culturalmente significativa por causa desses cuidados”
P8: “A jornada se estende muito além da instituição e é isso que sobrecarrega muito a gente”
P10: “(…) o professor sobrecarregou, eu me sinto sobrecarregada, então assim, tem que exercer várias funções(…)
A partir das falas das profissionais foi possível notar a carga de angústias e sofrimento às quais estão expostas, para vivenciar o sofrimento as professoras puderam se valer de estratégias de defesa individuais e estratégias de defesa coletivas como forma de encaminhar suas angústias, embora a maioria das estratégias não represente saúde individual e coletiva, elas podem ser usadas de forma inconsciente na busca por sobrevivência diante das pressões do trabalho, como apresentado na Tabela 1, Estratégias de Enfrentamento Defesa . Conforme os dados apresentados na Tabela 1, como estratégias de enfrentamento e defesa individuais foram identificados comportamentos de: racionalização, negação, dramatização, alienação, repressão, censura, isolamento, passividade, conformismo, repetição do discurso oficial da SME, servidão voluntária, saída sublimatória pela criatividade, medicalização, exposição oral das angústias para amigos e familiares, choro e silêncio. As estratégias de enfrentamento e defesas coletivas que mais apareceram nos discursos foram: aceleração do trabalho, dobrar para ganhar mais, financiamento próprio de materiais essenciais para o trabalho, competição, assédio, passividade, cinismo, individualismo, indiferença, agressividade, ironia, visão crítica, postura
de resistência, cooperação e compartilhamento de informações, como evidenciado pela tabela 1, uma tabela criada para apresentar as principais estratégias de usadas pelas professoras, individual e coletivamente para suportarem as angústias do trabalho.
Tabela 1 – Estratégias de Enfrentamento e Defesa
Estratégias de Defesa Individuais | Estratégias de Defesa Coletivas |
Medicalização Isolamento e apatia Silêncio Passividade Aceitação e servidão voluntária Burlas Psicoterapia Adoção de relacionamentos saudáveis Saída sublimatória pela criatividade (Mobilização Subjetiva) | Aceleração Trabalhar dobrado Financiamento do Trabalho Competição Individualismo Indiferença Agressividade Repetição dos discursos oficiais Visão Crítica Postura de Resistência Compartilhamento das informações (Cooperação) Abaixo assinado (Mobilização Coletiva) Denúncias (Mobilização Coletiva) Reuniões (Mobilização Coletiva) |
Elaborado pelas autoras
Conforme apresentado na Tabela 1, as professoras tentaram se valer de várias estratégias de defesa, inclusive a sublimação pelo trabalho usando a criatividade para transformar as angústias de sofrimento em trabalho criativo, uma vez que o trabalho com crianças pequenas possibilita a criação, dramatização, contação de histórias e outros recursos que se valem de artes plásticas e visuais. O compartilhamento de informações, a cooperação e a busca por acordos entre o coletivo também são estratégias que promovem saúde, mas a maioria das estratégias de defesa que apenas calam o sofrimento e geram conformismo individual e coletivo promovem apenas o retardamento da dor e podem apenas acelerar o surgimento das patologias. A partir do discurso das professoras foi possível constatar que todas apresentam alguma patologia. Os sintomas de patologias do trabalho apresentados no questionário foram: insônia, ansiedade, medo, sensação de cansaço e desânimo e para a demonstração de frequência dos mesmos foi elaborada a Figura 4 que é o gráfico de frequência dos sintomas de patologias docentes, o gráfico facilita a visualização das patologias e sua frequência no discurso das participantes, pois todas relataram passar por pelo menos um dos sintomas, sendo que desânimo, cansaço e insônia foram prevalentes em 90% das participantes, medo e ansiedade em 60% das participantes, conforme a Figura 4.
Figura 4 – Frequência dos Sintomas de Patologias do Trabalho
Fonte: (Autoras, 2022)
De acordo com a Figura 4, houve prevalência de sintoma em todas as entrevistas, além desses sintomas, duas participantes também se queixaram de sofrerem com pressão alta o que evidenciou o sofrimento das professoras e levou a necessidade da criação de outra categoria, a precarização. A precarização foi evidente, dados os discursos das professoras, quando falaram de vivências de assédio, desvio de função, alta cobrança por processos burocráticos, assistencialismo e descumprimento legal, como foi salientado nas entrevistas.
Para a visualização das novas categorias foi criada a tabela 2. A tabela 2 é a divisão das subcategorias que surgiram a partir dos discursos das professoras que enfatizaram alguns aspectos da precarização, os três primeiros aspectos: descumprimento legal, burocratização, desvio de função e assistencialismo dizem respeito aos aspectos que mais e aproxima da organização do trabalho, enquanto o assédio moral e a alienação dizem respeito a mobilização subjetiva.
Convergindo com os achados da presente pesquisa, Dias (2020) por meio do acesso aos dados da subsecretaria dos servidores a um município da região central do Brasil apresentou uma planilha de afastamentos, por meio da qual fica evidente o adoecimento mental dos profissionais e um gráfico que fez com base na observação dos anos (2013 a 2017), pois entre os anos de (2016) a (2017), seu gráfico demonstra um crescimento no número dos afastamentos em 50%, o que representa motivo de preocupação com a saúde dos servidores, que são em sua maioria mulheres. Com relação aos afastados, a autora salienta que foram 99,4% de mulheres afastadas para 12,6% de homens, reafirmando a presença da mulher, bem como seu adoecimento no meio escolar. Outro aspecto importante que convergiu com os dados apresentados nessa pesquisa diz respeito aos afastamentos, pois os seis afastamentos mais recorrentes encontrados pela autora foram: convalescências, conjuntivite, dengue, distúrbios lombares, distúrbios de voz e episódios depressivos. Considerando que apareceram nas falas das professoras entrevistadas o ritmo intenso e acelerado de trabalho com desgaste físico e mental, se faz urgente a preocupação com a saúde das professoras que atuam em creches e pré- escolas, pois as pressões que já afetam o corpo, causam angústias e desgastes à saúde mental destas profissionais e representam as patologias de trabalho e servidão apontadas em Dejours (2022).
A mobilização subjetiva realizado pelas professoras atuantes nos Centros Municipais de Educação para dar conta de tantas pressões e demandas não foi neutro em suas subjetividades, ele afetou sua saúde mental, conforme preconiza Dejours (2016) e (2022), assim, os dados demonstram que todas as professoras se queixaram de sofrer algum sintoma de trabalho, como; insônia, cansaço, medo e ansiedade, além das queixas quanto a crises de pânico e depressão e 60% já iniciaram algum tratamento medicamentoso, os dados apresentados convergem com a pesquisa de Dias (2020) que entrevistou professoras atuantes em CMEI´s do
mesmo município e considerando o total de sua amostra de entrevistas, 50% das profissionais precisou se afastar por motivos de saúde nos últimos cinto anos, o que reforça tanto a necessidade de pesquisas como essa como a urgência em promover mudanças necessárias para a saúde e o bem estar no trabalho.
Fleury e Macêdo (2015) reconhecem que o uso de estratégias de defesa como terapias a e medicação podem se configurar uma busca por mitigar o sofrimento causado pelas pressões no trabalho, mas essas estratégias podem ser usadas para incrementar o sistema produtivo em um movimento de tensão e produtividade, que uma hora falham e o resultado disso é pontuado em Dejours e Bégue (2010), são as patologias do trabalho; ansiedade, depressão e até o suicídio. Fica evidente a não neutralidade do trabalho à subjetividade das professoras quando se analisa o relato da professora que esse ano decidiu não trabalhar o dia todo, ela afirmou que: “a gente acaba se envolvendo, é, de uma maneira tão grande que a preocupação e o olhar de contribuir para todos e o olhar para a educação que muitas vezes nós esquecemos e viver”. Assim, ficou evidente a necessidade de se estabelecer melhores relações de trabalho que favoreçam o prazer de conviver, bem como a mobilização subjetiva e coletiva, visto que as professoras se encontram diante de muitas pressões da sobrecarga, outro aspecto importante para posterior análise é a busca por maior reconhecimento da gestão e da comunidade, uma vez que o trabalho das professoras dos Centros Municipais de Educação Infantil é fundamental para a manutenção do trabalho, economia e da família.
Com relação à gestão pública de serviço, há duas pesquisas recentes que contribuem nessa discussão e trazem reflexões importantes, em especial, quanto a necessidade de liberdade e autonomia e reconhecimento para promover vivências de prazer no trabalho, que resultam em redução ou ausência das patologias do trabalho, como observado em Machado e Macêdo (2022) e Santos (2022), cujos aspectos encontrados seguem abaixo:
Na pesquisa realizada junto aos auditores do Fisco (Goiás), de acordo com Machado e Macêdo (2022) foram mais prevalentes as vivências de prazer, considerando a liberdade e autonomia por meio da flexibilidade que possuem para realizar seu trabalho, inclusive, parte do trabalho eles podem fazer em casa e conseguem discutir abertamente com a gerência qual a melhor forma de realizar seu trabalho. Foi considerada outra vivência de prazer dos fiscais, seu o reconhecimento, pois eles afirmaram se sentir reconhecidos frente ao seu ganho salarial que garante uma sobrevivência com conforto, pois possuem tempo e finanças parar arcarem com atividades de lazer. Suas vivências de sofrimento estavam ligadas a vivências com exposição a riscos e ameaças feitas pelo público atendido, mas que conforme os profissionais melhoraram após o uso de bases de dados online para o preenchimento de notas fiscais, por exemplo, assim, ficou evidente como a falta de liberdade, autonomia e reconhecimento é um diferencial no que diz respeito a vivências de prazer que promovem qualidade de vida.
Comparando os resultados presentes acima com a pesquisa de Santos (2022) o que se percebe é que os achados demonstram como a falta de liberdade, autonomia e reconhecimento impede as vivências de prazer no trabalho, as vivências de prazer foram menores; prevalecendo as vivências de sofrimento e angústias. Os resultados de Santos (2022) convergem com esta pesquisa, considerando as angústias apresentadas pelas professoras dos CMEIS, foi mais prevalente, a falta de liberdade e autonomia em realizar o trabalho, que somadas a intensificação do trabalho com metas inalcançáveis e exposição a riscos sociais, podem criar um ambiente favorável ao surgimento de patologias.
Tais aspectos que representam a falta de liberdade, autonomia e reconhecimento, presentes nos achados de Santos (2022) e nos resultados desta pesquisa, impactam a saúde das profissionais que se sentem pressionadas a realizar um trabalho complexo sem espaço de liberdade e autonomia para criar, elaborar e se mobilizar psiquicamente.
A quantificação de seu trabalho por meio das cobranças burocráticas torna ainda mais angustiantes, suas vivências de sofrimento. A falta de reconhecimento material e simbólico é
outro ponto importante, pois se comparadas aos fiscais as vivências de sofrimento das professoras culminaram em desânimo, desmotivação, problemas de sono e outros aspectos representados nas patologias, como apresentado por meio dos dados acima mencionados.
Na pesquisa realizada por Santos (2022) as vivências de prazer se assemelham às vivências das professoras quanto ao reconhecimento social de seu trabalho, assim, tanto psicólogos e assistentes sociais, como professoras primárias se sentem motivados a prestar um atendimento que é de acolhimento, proteção e educação a camadas mais vulneráveis da população. Nesse sentido, se mostra urgente a necessidade de reconhecer simbolicamente a importância dos profissionais que lidam com as pressões da desigualdade social, injustiça e pobreza, como forma de promover vivências de prazer.
No que diz respeito aos aspectos já mencionados em Pires e Macêdo (2006) que são: burocratização dos processos, hierarquia e apego ao poder, Santos (2022) e os dados desta pesquisa convergiram, demonstrando ser urgente a mudança aos aspectos centrais que fundamentam a gestão pública, nesse sentido, uma mudança, como salientado em Dejours (2015) poderá trazer bons resultados, uma vez que já aconteceu na gestão pública da saúde francesa, demostrando eficácia.
O modelo adotado pelo autor expressa o rompimento com a quantificação dos processos ou gestão de qualidade total que foi difundido em meados dos anos oitenta e trouxe patologias aos trabalhadores e para combater os danos causados por tais modelos de gestão, Dejours (2015) propôs um modelo administrativo em gestores orientado para a coordenação das competências e habilidades individuais e cooperação entre os trabalhadores o que minimiza as vivências de rivalidade entre os trabalhadores e fortalece o prazer de viver junto.
É necessário observar que as mudanças sugeridas em Dejours (2015) a partir das funções do Gestor são mudanças ideológicas que não implicam investimentos financeiros, mas que produzem melhorias sensíveis à saúde mental e social dos trabalhadores. Nesse sentido, o papel do gestor é fundamental para a articulação dos trabalhadores à cultura da organização pública, ele transmite missão, visão e valores da organização; um gestor que compreende seu papel e cumpre as funções descritas em Dejours (2015) pode desenvolver articulações necessárias, ações junto à organização pesquisada, promovendo saúde e economia de recursos.
CONCLUSÃO
Considerando os relatos encontrados na pesquisa, evidenciou se que o objetivo de compreender quais são as vivências das professoras de prazer, sofrimento e defesas foi alcançado, trazendo aspectos reveladores quanto ao impacto destas vivências individual e coletivamente, assim, o método escolhido, a Psicodinâmica do Trabalho de abordagem qualitativa reafirmou ser relevante, pois revelou em profundidade não apenas as vivências subjetivas, mas ainda as suas consequências, as patologias individuais e condutas sociais inadequadas que prejudicam as relações sociais entre as professoras. Uma das limitações da pesquisa foi o tempo, pois a Psicodinâmica do Trabalho possui uma proposta embasada e fundamentada em acompanhamento coletivo por meio de grupos de discussão coletiva, cujo principal objetivo é esclarecer e promover vivências de coletivas de confiança e cooperação que fortaleçam os trabalhadores, o que não foi ainda não foi possível, visto que o tempo do mestrado de dois anos se tornou um limite para a condução adequada da abordagem proposta. Outra limitação foi a ainda pequena abrangência da pesquisa, mesmo considerando que o público participante representou quase todas as Unidades Regionais da Secretaria de Educação, por que razão é sugerida a continuação da pesquisa, no sentido de ampliar seu alcance geral à população investigada.
A investigação buscou compreender em profundidade os aspectos que interferem na subjetividade das professoras, partindo da análise de seus discursos por meio da Psicodinâmica
do Trabalho. Nesse sentido, a abordagem compreendeu quais os principais aspectos que saltam nos discursos, sendo; sobrecarga, precarização e riscos ocupacionais os mais prevalentes. Enquanto possibilidade de fala, a pesquisa iniciou um movimento de escuta, fala, pensamento e linguagem, oferecendo por meio do diálogo, um caminho possível para buscar acordos e ajustes para as trabalhadoras. A pesquisa atendeu ao objetivo proposto uma vez que apresentou aspectos importantes no que diz respeitou à mobilização subjetiva das professoras de creches e pré-escolas brasileiras, tanto no que diz respeito ao prazer, como ao sofrimento, iniciou o movimento de escuta, fala, pensamento e linguagem, por meio da escuta clínica e denunciou aspectos relevantes da mobilização subjetiva e coletiva das profissionais bem como o risco para o desenvolvimento de patologias ao qual estão expostas.
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